Precisamos falar sobre mudanças climáticas e o desastre do Rio Grande do Sul

Os últimos eventos que ocorreram no Sul do país culminando em uma catástrofe sem precedentes estão chamando a atenção das autoridades e da sociedade civil. 

O país que se beneficiava por sua localização geográfica e não sofria com terremotos, furacões ou tsunamis vivenciou, nas últimas semanas, um desastre ambiental que pode ser comparado aos desastres ocasionados por terremotos: as chuvas que tomaram conta do Rio Grande do Sul já afetam 2.281.777 pessoas, sendo que 806 estão feridas, 104 desaparecidas e 538.164 desalojadas. Infelizmente, o número de mortes já ultrapassou o número de 151 pessoas.

Apesar do El Niño e La Niña serem eventos climáticos cíclicos conhecidos, as mudanças climáticas tendem a intensificá-los. Dessa forma, é possível que a frequência de desastres climáticos - como os vivenciados pelo Rio Grande do Sul nas últimas semanas - sejam mais frequentes, e uma vez que as respostas climáticas têm sido mais intensas, a nossa capacidade de adaptação e resiliência a esses eventos também precisam ser mais potentes. 

Mas você pode estar se perguntando: qual é a explicação para essa catástrofe climática do Rio Grande do Sul?

Primeiro, precisamos entender que o El Niño e o La Niña são padrões climáticos naturais de interação entre as correntes de ar que ocorrem na superfície dos oceanos por conta da mudança de temperatura. Essas correntes chegam ao continente e circulam na atmosfera: vêm dos oceanos, sobem até a Amazônia, descem para a Cordilheira dos Andres, se resfriam, voltam para o país pela região Sul e tendem a subir para o Sudeste e Centro-Oeste, num ciclo climático.

Contudo, a presença de uma "bolha de ar seco e quente" em cima do Centro-Oeste e do Sudeste criou uma pressão atmosférica que funcionou como uma "muralha", impedindo que essa massa de ar frio saísse da região Sul do país. Ademais, essa corrente de ar frio se encontrou com uma corrente úmida que veio do Oceano Atlântico, ocasionando chuvas intensas centralizadas e que não cessavam. 

Somado a isso, a região é uma área de planícies e vales profundos inundados, que não consegue drenar toda a água da chuva concentrada na região, provocando as grandes enchentes que afetaram os 450 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul. 

Ainda é difícil mensurar o impacto real que essa catástrofe causou e vai causar na vida das pessoas que vivem nessa região e planos de recuperação são emergentes. Mas o que há em comum com o que aconteceu no Rio Grande do Sul em maio de 2024 e com o que aconteceu no litoral norte de São Paulo em fevereiro de 2023? Mudanças climáticas amplificam eventos climáticos naturais e planos de mitigação devem fazer parte das políticas públicas e dos orçamentos das cidades daqui em diante. 

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